Sempre fui aquele cara planejador. Meus amigos zoavam que eu tinha planilha até para escolher qual série assistir no final de semana. Por isso, quando aceitei um convite de última hora para o Carnaval de Salvador em fevereiro de 2024, todos à minha volta ficaram genuinamente chocados. “O Daniel vai para a Bahia sem roteiro? Será que ele está com febre?”, brincou Thaís, minha colega de trabalho no escritório de arquitetura onde trabalhamos em Porto Alegre.
O convite veio de Marcos, meu primo que se mudou para Salvador há cinco anos para abrir um quiosque de acarajé no Rio Vermelho. “Cara, é uma loucura você nunca ter vindo. Tenho espaço no apartamento, você só precisa comprar a passagem. O resto a gente resolve aqui”, insistiu ele na nossa chamada de vídeo mensal. Olhei para a temperatura de 7°C em Porto Alegre naquela noite de janeiro, para meu calendário vazio de relacionamentos amorosos, e pensei: por que não?
Três semanas depois, estava desembarcando no Aeroporto Internacional de Salvador com uma mochila, protetor solar fator 70, e a sensação de que tinha cometido um erro terrível. O que eu, um arquiteto de 34 anos que preferia um bom livro a uma festa, estava fazendo indo para o maior carnaval de rua do país?
O primeiro choque veio logo na saída do aeroporto, quando o taxista, Seu Genival, um senhor de 63 anos com sotaque baiano carregado, me perguntou: “É sua primeira vez no carnaval daqui, né, meu rei? Dá pra ver na cara!”
No caminho para o apartamento de Marcos no bairro do Rio Vermelho, Seu Genival me deu uma aula sobre os circuitos do carnaval: Barra-Ondina, Campo Grande, Pelourinho, cada um com suas peculiaridades. “O mais importante é escolher bem o bloco e não esquecer de beber muita água, senão a ressaca vem com força total!”, aconselhou, rindo da minha expressão cada vez mais apreensiva.
Marcos me recebeu com um abraço apertado e uma cerveja gelada. Seu apartamento, um dois quartos simples mas aconchegante com vista para o mar, seria minha base pelos próximos seis dias. “Você chegou na hora perfeita”, anunciou ele. “O pessoal vai se reunir aqui hoje à noite para planejar amanhã. É o primeiro dia oficial do carnaval!”
O “pessoal” era um grupo de aproximadamente dez pessoas, amigos de Marcos que frequentavam seu quiosque e já haviam se tornado uma espécie de família escolhida. Entre eles estava Juliana, uma professora de história de 32 anos com um conhecimento enciclopédico sobre música baiana, que rapidamente se dispôs a ser minha guia nessa aventura carnavalesca.
Enquanto conversávamos sobre quais blocos seguir no dia seguinte, notei que várias pessoas checavam constantemente seus celulares, muitas vezes comemorando discretamente. Curioso, perguntei a Juliana o que estava acontecendo.
“É o Bet茫o”, ela explicou, mostrando a tela do seu celular onde um aplicativo colorido exibia animações de um jogo que parecia ser uma mistura de caça-níqueis com roleta. “É um cassino online que patrocina vários blocos do carnaval este ano. Todo mundo aqui começou a usar depois que o Leo, aquele ali de camiseta verde, ganhou R$840 semana passada.”
Leo, um designer gráfico de aproximadamente 30 anos com uma barba bem cuidada, ouviu seu nome e se aproximou. “Tá falando da minha sorte grande? Foi no Fortune Tiger, mano. Três tigresinhos dourados na mesma linha, um sonho!”, contou ele, com o entusiasmo de quem relembra uma grande conquista.
Ele me mostrou como o aplicativo funcionava, explicando os diferentes jogos disponíveis. “O melhor é que você pode apostar valores pequenos, tipo R$2,50, só pela diversão. E eles têm uma promoção especial de Carnaval com cashback de 20% nas perdas.”
Curioso e querendo me integrar ao grupo, decidi baixar o Bet茫o. O processo de cadastro foi surpreendentemente simples: informações básicas, um código de verificação por SMS, e eu já estava dentro. Fiz um depósito inicial via PIX de R$100, o que me pareceu um valor razoável para experimentar sem grandes riscos.
No dia seguinte, fomos para o Circuito Barra-Ondina, onde seguiríamos o bloco Timbalada. A multidão era impressionante – milhares de pessoas dançando, cantando e pulando ao som do trio elétrico. O calor era intenso, mesmo às 17h, e para alguém acostumado com o clima temperado do Sul, parecia que eu estava derretendo.
“Toma mais uma água”, insistiu Juliana, me passando uma garrafa. “Você está vermelho como um camarão!”
Após cerca de duas horas seguindo o bloco, meus pés já doíam e minha energia começava a faltar. Enquanto o grupo continuava animado, percebi que precisava de uma pausa. Encontramos um quiosque menos movimentado na praia, onde pedi uma água de coco e me sentei para recuperar o fôlego.
Foi então que me lembrei do Bet茫o. Enquanto descansava, decidi experimentar um dos jogos que Leo havia recomendado: o Aviator. O conceito era simples – um avião decolava e o multiplicador aumentava até que você decidisse “sacar” seus ganhos, ou até que o avião “explodisse”, levando sua aposta.
Minha primeira tentativa com R$5 terminou rapidamente quando o avião explodiu em um multiplicador de apenas 1.2x. “Que azar”, pensei. Mas na segunda tentativa, consegui sacar em 2.8x, transformando meus R$5 em R$14. Uma pequena vitória, mas o suficiente para levantar meu ânimo.
Juliana, que havia se sentado ao meu lado para descansar também, notou minha pequena comemoração. “Primeira vitória no Bet茫o? Esse é o espírito do carnaval baiano – um pouquinho de ousadia e sorte!”, disse ela, levantando sua caipirinha em um brinde improvisado.
Antes que o grupo decidisse retornar ao circuito, experimentei mais algumas rodadas, alternando entre pequenas vitórias e perdas. Surpreendentemente, aqueles momentos jogando no Bet茫o, conversando com Juliana sobre sua vida em Salvador (ela era originalmente de Curitiba e havia se mudado seis anos atrás após um intercâmbio), tornaram-se um refúgio agradável do caos do carnaval.
No terceiro dia de carnaval, tínhamos planos ambiciosos: participar do bloco Chiclete com Banana com abadás que Marcos havia conseguido através de um amigo que trabalhava na produção. Os abadás – as camisas oficiais que dão acesso aos blocos – tinham custado R$220 cada, um valor considerável, mas que valeria a pena pela experiência, segundo todos.
O problema começou quando acordei às 10h30 com uma leve ressaca e descobri que o abadá que deveria estar na cadeira ao lado da minha cama tinha desaparecido. Revirei o quarto de hóspedes onde estava, checando debaixo da cama, dentro da mochila, na sala, e nada. Marcos e os outros já haviam saído para o café da manhã em uma padaria próxima, então eu estava sozinho no apartamento em crise.
Quando o grupo retornou, a busca se intensificou. “Você não deixou na varanda ontem à noite? Lembro de você mostrando para alguém”, sugeriu Pedro, um amigo de Marcos que trabalhava como fotógrafo freelancer. Mas na varanda também não estava.
Após quase uma hora de busca infrutífera, tive que aceitar o fato: o abadá havia sumido. Possivelmente esquecido em algum quiosque ou perdido no caminho de volta na noite anterior. “Cara, que prejuízo…”, lamentei, sentindo-me culpado não apenas pelo dinheiro perdido, mas por todo o transtorno causado.
“Relaxa, essas coisas acontecem no carnaval”, consolou Marcos, embora eu pudesse notar seu desapontamento. “Podemos tentar achar outro abadá com algum cambista, mas vai sair mais caro.”
Um cambista próximo ao circuito estava vendendo abadás do mesmo bloco por R$350 – um aumento significativo que meu orçamento de viagem não tinha previsto. Frustrado e me sentindo um completo idiota, decidi que iria cobrir o custo do novo abadá para Marcos, que havia sido tão hospitaleiro, e ficar de fora dessa parte da programação.
Enquanto o grupo se preparava para sair, fiquei no apartamento sozinho, desanimado e me sentindo deslocado. Para passar o tempo e tentar melhorar meu humor, abri o Bet茫o novamente. Desta vez, escolhi o Fortune Tiger, o jogo que havia dado sorte a Leo.
Comecei com apostas pequenas de R$2, mas após algumas rodadas sem grandes resultados, aumentei para R$5, depois R$10. Foi em uma aposta de R$15 – maior do que eu normalmente faria – que algo incrível aconteceu: três símbolos especiais apareceram na tela, ativando um bônus chamado “Tiger’s Claw”. A tela explodiu em animações coloridas e, quando os números pararam de subir, eu havia ganho R$237.
Olhei incrédulo para o saldo atualizado. Não era uma fortuna, mas cobria quase exatamente o valor do abadá perdido! Tirei um screenshot da tela e enviei para o grupo de WhatsApp que havíamos criado para o carnaval, com a mensagem: “GENTE! O Bet茫o acabou de pagar meu abadá novo! Não saiam sem mim!”
A resposta foi uma enxurrada de figurinhas comemorativas e mensagens de parabéns. “A Bahia está te dando as boas-vindas!”, respondeu Juliana. Marcos, mais prático, escreveu: “Corre que o cambista ainda deve estar lá!”
Aquela virada de sorte no Bet茫o não apenas salvou meu dia, mas também se tornou uma espécie de lenda entre nosso grupo. Nas noites seguintes, antes de sairmos para os circuitos do carnaval, desenvolvemos um pequeno ritual: todos sentados na sala de Marcos, fazendo uma rodada conjunta no Fortune Tiger ou no Aviator, como uma espécie de “aquecimento” para a noite.
Na quinta-feira, penúltimo dia do carnaval, estávamos seguindo este ritual quando Juliana teve uma ideia: “E se a gente criar uma competição? Cada um aposta R$20 no Bet茫o. Quem conseguir transformar isso no maior valor após 15 minutos ganha uma prenda.”
A ideia foi recebida com entusiasmo. Decidimos que o perdedor teria que usar uma fantasia ridícula escolhida pelo grupo no último dia de carnaval. Cada um escolheu seu jogo preferido – alguns optaram pelo Fortune Tiger, outros pelo Aviator, e Leo foi para o Mines, um jogo onde você deve evitar minas escondidas em um campo minado.
O clima na sala era de pura empolgação. Pessoas comemorando pequenas vitórias, lamentando derrotas, dando dicas uns aos outros. Para minha surpresa, me vi completamente absorvido pela experiência – eu, que havia chegado com tanto receio do carnaval, estava agora totalmente integrado nesta pequena tradição improvisada.
No final dos 15 minutos, Pedro emergiu como o grande vencedor, tendo transformado seus R$20 em impressionantes R$96 no Mines. Eu terminei em terceiro lugar, com R$42, enquanto Marcos acabou em último, com apenas R$8 restantes.
“Parece que alguém vai usar peruca e asas de fada amanhã!”, anunciou Juliana, para desespero cômico de Marcos e risadas do resto do grupo.
Quando saímos para o circuito naquela noite, percebi como aquela pequena competição no Bet茫o havia fortalecido os laços entre nós. Eu não era mais apenas o primo sulista de Marcos – era parte do grupo, com minhas próprias histórias e participação nas tradições.
O último dia de carnaval chegou rápido demais. Marcos, cumprindo sua palavra, desfilou pelo circuito Campo Grande usando uma peruca rosa, asas brilhantes e uma varinha de condão, para deleite de todos nós e confusão total dos outros foliões. “Tudo culpa do Bet茫o!”, ele explicava para quem perguntasse sobre sua fantasia peculiar.
Durante esses seis dias intensos, eu havia me transformado. O arquiteto planejador de Porto Alegre tinha se rendido ao improviso baiano, dançado axé até o amanhecer, feito amizades que pareciam de uma vida inteira, e descoberto uma afinidade inesperada por jogos online – especialmente o Fortune Tiger, que continuava me trazendo pequenas vitórias consistentes.
No meu último dia em Salvador, enquanto fazíamos um churrasco de despedida na varanda do apartamento de Marcos, Juliana sugeriu a criação de um grupo permanente no WhatsApp chamado “BetManiáticos do Carnaval”. O objetivo era compartilhar nossas aventuras no Bet茫o durante o ano e, principalmente, planejar o reencontro no próximo carnaval.
“Você vai voltar, né?”, perguntou ela, enquanto todos olhavam para mim com expectativa.
“Depois dessa experiência? Não perderia por nada”, respondi, recebendo abraços e celebrações.
Retornar ao frio de Porto Alegre foi um choque, tanto para o corpo quanto para o espírito. De repente, estava de volta aos projetos arquitetônicos, reuniões com clientes, e minha rotina estruturada. Mas algo havia mudado fundamentalmente em mim.
Mantive o hábito de jogar ocasionalmente no Bet茫o, geralmente nas noites de sexta-feira com uma cerveja gelada – meu pequeno ritual para manter viva a energia do carnaval. O grupo “BetManiáticos” permaneceu surpreendentemente ativo, com todos compartilhando screenshots de vitórias, histórias do dia a dia e, é claro, planos para o próximo carnaval.
Em meados de abril, cerca de dois meses após meu retorno, tive uma noite particularmente boa no Bet茫o. Uma sequência de apostas bem-sucedidas no Aviator me rendeu um ganho total de R$384. Imediatamente compartilhei o resultado no grupo, recebendo uma enxurrada de parabéns e brincadeiras sobre como eu tinha “pegado o jeito baiano”.
A mensagem de Juliana foi a que mais me tocou: “Viu só? Salvador ainda está com você, mesmo à distância.”
Foi então que tomei uma decisão impulsiva, muito diferente do Daniel pré-carnaval: usei parte daquele ganho para comprar uma passagem para Salvador, desta vez para o São João, em junho. “Quem está disponível para me receber para o São João? Dizem que a energia de sorte funciona melhor pessoalmente!”, escrevi no grupo.
As respostas entusiasmadas não tardaram, com Marcos imediatamente oferecendo novamente seu sofá-cama e Juliana prometendo me levar para experimentar o verdadeiro licor de jenipapo que, segundo ela, “multiplicava a sorte no Bet茫o por pelo menos 5x”.
Olhando para a confirmação da passagem em meu e-mail, sorri ao pensar em como uma decisão impulsiva de aceitar um convite para o carnaval, seguida pela descoberta igualmente casual do Bet茫o, havia transformado não apenas aquela semana, mas potencialmente alterado minha forma de encarar a vida.
Talvez algumas das melhores experiências realmente venham dos momentos não planejados. E talvez, só talvez, eu precisasse de um pouco mais de Salvador – e de Fortune Tiger – na minha vida porto-alegrense tão organizada.
Na semana passada, enquanto jogava uma rodada rápida no Bet茫o antes de dormir, acertei outro bônus no Fortune Tiger, menor desta vez: R$68 a partir de uma aposta de R$5. Mandei o screenshot para o grupo com a legenda: “Alguém mais sentindo cheiro de abadá 2025?”
A resposta de Marcos foi rápida e me fez rir sozinho no silêncio do meu apartamento: “O Bet茫o já está guardando seu lugar no carnaval! Mas dessa vez, por favor, guarda o abadá no cofre!”